quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

A arte de domingar

Domingar é para poucos. Realmente, é preciso muita habilidade para andar a 30 km/h com uma avenida aberta a sua frente, seguir com precisão o centro da faixa que divide as pistas, tomar seguidas buzinadas sem perder a pose e ter a mãe eleita a “Mãe do ano” sem se estressar. O fato é que nem nós da categoria “kombista” agüentamos esse povo! E eles ficam piores nas festas de fim de ano, afinal, são muitos dias semelhantes a domingos.

Para desviar das estripulias desse povo que não tem o que fazer, é preciso desenvolver técnicas precisas, pois qualquer titubeio pode causar um leve acidente - mas que amassará toda a frente do seu carro e você será ainda o culpado pela colisão. Como é difícil desviar de tais criaturas, pelo menos, conheça-as. Aqui vai uma classificação básica:

O dono do fusquinha

Quando o sinal está verde, mas o condutor do carro a sua frente está tão lento, que sem dúvida você irá ficar parado no vermelho e ele passará tranqüilo no amarelo.

A tia do cigarro

Normalmente, este tipo de domingueiro é mulher, com cerca de 50 anos e não sabe dirigir e fumar ao mesmo tempo. Então, ela dirige devagar e, assim que o semáforo muda para o amarelo, ela freia bruscamente. Como quem fica atrás está há tempos no mesmo ritmo, tentando ultrapassa-la, é pego de surpresa. Conclusão, aquela batidinha de deslocar o pára-choque.

O velhinho de boina

Eles são bonitinhos com suas boinas e óculos de acrílico, mas mesmo assim é difícil agüentar os velhinhos que insistem em dirigir. Portadores de habilitações adquiridas na década de 1930, é mais do que normal eles perderem alguns reflexos e noções de espaço. O problema é que eles não entendem isso. Pegam seus carrões – seja um Opala ou um Corolla - e vão para cima das faixas, ocupando as duas pistas. Já tentou ultrapassar um desses? Não dá, nem com reza brava e protestos de motoqueiros.

O carro do fantasma

Sabe aquele Uno Mille que é conduzido por... ninguém?! Na verdade tem um ser bem baixinho na direção, com a cara no volante. Ou seja, quem está atrás, desesperado para fazer a ultrapassagem, não sabe exatamente o que está xingando. É desesperador. Esses domingueiros também são aqueles que não dão seta por nada, muito menos ligam o pisca-alerta em cortejos fúnebres.

O aprendiz

Tudo bem, eu já fui uma aspirante a motorista, é preciso respeitar quem está em processo de aprendizado. Mas alguém avisa esse povo que não é saindo com o carro de domingo que a prova para tirar a habilitação vai ficar mais fácil! Na hora, você não terá nem o seu pai, nem seu irmão mais velho e nem o seu amigo idiota para te orientar. Haverá um cara bem mala te avaliando e a chance de o carro morrer ou de você derrubar os cones na baliza é de 99%. Então, evite pagar os micos do carro morrendo e da marcha gritando. Quem fica com o carro bem atrás do seu, agradece.


Enfim, Feliz 2009!!!!! E cuidado ao sair para passear no dia 1º: os domingueiros nunca descansam.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Vida no Elevado

Que Ponte Estaiada que nada. A obra “faraônica” mais legal de São Paulo é o Elevado Costa e Silva, o famigerado “Minhocão”. Famigerado porque os moradores da região querem matar até hoje o ex-prefeito Paulo Maluf e, agora, a minha pessoa por esta declaração. Mas é divertidíssimo quando o trânsito pára por lá.

Como as janelas dos apartamentos ficam muito próximas ao viaduto, durante a noite dá para ver tudo o que rola na casa dos outros. Outro dia, vi uma senhora já com seu pijama arrumando a mesa do jantar. Aquela luz amarelada da sala, as flores na janela, o carinho ao colocar os pratos na suposta mesa (suposta porque a janela limita a visão). Até imaginei o cheiro daquela comidinha requentada. Sabe? Arroz, franguinho refogado...

Já no prédio ao lado, um gordinho de camiseta regata branca observava o trânsito. Debruçado na janela, estava tão confortável que passaria horas hipnotizado pelas buzinas e cores dos carros. O momento blasé foi interrompido pela mulher que, provavelmente, aguardava-o para assistir à novela.

No edifício oposto, uma jovem mulher limpava sem muita concentração o rack da TV, cheio de bibelôs. Fato que me chamou a atenção para bisbilhotar a decoração das residências. Como existe gosto variado neste mundo! Paredes cheias de quadros, outras vazias que não são pintadas há séculos, lustres anos 80, arranjos de flores, fruteiras, cortinas e persianas.

Pena que as pessoas desconhecem o prazer de um bom observador: buzinadas na orelha, é hora de voltar a cuidar da minha vida e encarar o congestionamento.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Mensagem de um realejo

Mãos no volante e olhos bem atentos ao mundo que existe ao redor do carro. Essa é a dica para quem quer dar boas risadas e ver figuras de arrancar longes lembranças. Um dia desses tive o privilégio de me deparar com uma figurinha muito familiar na minha infância. Não, não era alguém tirando caca de nariz (aliás, muita gente faz isso crente de que ninguém está vendo). Eu vi um realejo!

Há muito tempo eu não via aquele homem de terno e chapéu que segurava uma caixa de madeira com vários bilhetinhos. Era o figura girar a manivela para tocar a tradicional musiqueta simpática e meus olhos enchiam de brilho. Achava aquele periquito que pegava com o bico a mensagem - que traria as soluções para toda sua vida - o ser mais misterioso da face da Terra.

Lembro-me bem do realejo que ficava na antiga praça de alimentação de um shopping em São Paulo. Eu morria de medo do sujeito. Para mim, o cara era primo do 'homem do saco' (aquele que rouba criancinhas). O periquito também me assustava. Não por ele em si. Só não queria saber o que estava escrito para mim. Que raio de mensagem aquele bicho daria para eu ler? Tinha só cinco anos! É amedrontador saber do futuro nessa idade.

Desta vez, lamentei por estar dentro do carro (sem lugar para estacionar, claro) e não poder ver a minha sorte. Gostaria tanto de saber o que a mensagem do periquito tem a me dizer...

domingo, 30 de novembro de 2008

‘The Twilight Zone’

O trânsito tem muitos mistérios. O mais enigmático deles acredito que seja o da luz de ré. Sabiamente, as fabricantes de veículos desenvolveram os faróis traseiros dos veículos com três tipos de lente - a vermelha indica frenagem, a amarela aponta aonde o motorista irá virar ou um alerta (quando as luzes dos dois lados piscam ao mesmo tempo) e a transparente, que muita gente chama de branca, deixa bem claro que a marcha a ré foi engatada -. Por acaso é difícil entender a mensagem “atenção, esse carro começou a andar para trás, portanto, não passe por aqui!”?

Difícil não, é impossível. Engate a ré e verá. Vão passar atrás do seu carro todos os velhinhos que estão na rua, dez crianças brincando com uma bola de futebol, o pipoqueiro, o tio que vende algodão doce e uma mulher com um carrinho de bebê. E olha, a sinalização sonora que existe em alguns caminhões não adianta nada, as pessoas ficam hipnotizadas pela luz de ré do mesmo jeito.

Como pode? Restam-me duas teorias: ou é o mesmo conceito da atração das mariposas aos postes de luz ou é um fenômeno sobrenatural digno de ser representado no extinto seriado “Além da imaginação.” Porque isto acontece na padaria, supermercado, estacionamento de shopping, na rua de casa, na garagem do prédio, no parque, na frente da igreja…

O pior é que você é obrigado a ficar parado com aquela cara de bobo esperando todo mundo passar. Quando consegue tirar o carro do lugar, ainda há o medo de atropelar alguém que ficou no ponto cego do espelho, afinal, ninguém está livre dos zumbis da ré.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Extra, extra!

Acordar cedo para trabalhar sempre é um grande desafio. Confesso que meu humor não é dos melhores nas primeiras horas do dia. O trânsito colabora bastante com o sentimento de viver o clássico `Um dia de fúria`. Talvez seja por isso que algum gênio do marketing inventou as esverdeadas mocinhas que entregam o jornal gratuito Metro.

Aquela roupa fluorescente parece um oásis de alegria no cinza da cidade. As entregadoras do jornal, a maioria baixinha, estão sempre sorrindo com um exemplar na mão, é contagiante. Só tem um problema, elas nunca entregam o tal do jornal para mim. Frustrada pelo abandono, decidi mudar a tática de abordagem – meio limitada por estar dentro do carro.

Imaginei que, por causa do meu mau-humor matinal, ficasse com cara brava, fechada. Então, resolvi sorrir. Foi só o primeiro sinal fechar e eu abri aquele sorriso enorme, cheio de dentes. Não adiantou. A mocinha saltitante não quis nem saber e pulou meu carro.

No dia seguinte, inconformada, decidi não usar óculos de sol. Os olhos devem sorrir junto, eu pensei. Olhei para a cara da mulher e sorri com aquele olhar de “eu quero muito ler esse jornal.” Que nada, ela ficou interessa mesmo foi no taxista que estava de graça. Perdoei, afinal, a moça tem todo o direito de flertar.

Depois disso, adotei a tática da janela. O meu carro nunca fica com o vidro fechado, mas dessa vez escancarei a janela e coloquei o “bração” para fora. Resultado, meu braço quase foi levado por um motoqueiro e eu fiquei sem jornal mais uma vez.

Após duas semanas dedicadas à luta pelo Metro, resolvi deixar para lá. Quem sabe alguém do concorrente Destak passa e reconhece a minha importância como leitora, afinal sempre passo horas em congestionamentos?

Como tudo na vida, as coisas só acontecem quando a gente desencana. Lá estava eu, parada, curtindo o som do carro e viajando em meus pensamentos, quando aquela radiação verde se aproximou do carro: "moça, aceita?" Que felicidade! Peguei o jornal da mão da mocinha e a agradeci como se fosse a chave de um Volvo C30 zero quilômetro. Ela retribuiu o sorriso, o farol abriu e eu segui toda contente para mais um dia de trabalho. Foi a única vez que li esse jornal de cabo a rabo.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Blitz

Sábado, às 10h50 da manhã, ninguém merece ser parada em uma blitz. Pois é, isso nunca tinha acontecido comigo, mas nessa moda de ‘lei seca’ nem fiquei espantada quando o policial fez sinal para parar o carro.

- Moça, por favor, o documento do carro e a habilitação.
- Estão aqui.
- Você deve estar achando estranho, uma mulher sozinha ser parada assim, mas isso é importante para a sua segurança. Vai que você foi assaltada e tem um bandido no seu carro. [Olhando meus documentos]
- È, o senhor tem razão.
- Você é bonita hein, é descendente do quê?
- Italiano. [Ai, começou a tosquice]
- A minha namorada também. Ela é braaaaava. Ela e o pai dela. Quando eu comecei o namoro a primeira coisa que ele perguntou foi quais eram as minhas intenções.
- Pois é. [Comer sua filha?!, meio óbvio...]
- É que ela já foi casada com um homem rico pra caramba, mas não sei não... O cara ficava vendo filme pornô e não queria nada com ela...
- ... [Cara de paisagem: que que eu tenho com isso? E eu lá quero saber da vida sexual dos outros!!!]
- E outra, ela me disse que casou virgem com ele. Eu nunca casaria com uma mulher sem saber como ela é na cama.
- ... [Cara de paisagem 2: qual é o limite do desacato à autoridade? Será que eu posso mandar esse fulano à merda???!!!]
- Então, a gente está sem o bafômetro. Mas tudo bem, seus documentos estão certinhos.
- Legal. [Antes eu tivesse bebido!!! Socorro!!!!]
- Viu como não são todos os policiais que são carrancudos. A sociedade precisa entender que a gente é legal, estamos aqui pela segurança das pessoas. Você viu como eu sou gente boa. Pode ir.
- Obrigada. [Pasma com o ‘monólogo’ e atrasada]