quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Efeito gelatina

A qualquer hora do dia e não importa em qual sentido. Atravessar a Avenida dos Bandeirantes no trecho do aeroporto de Congonhas é uma vivência única. Inexplicavelmente, as pessoas reduzem a velocidade, cometem as maiores barbeiragens e atravancam todas as vias de acesso. Detalhe, não há acidentes e nem quilômetros de congestionamento à frente.

Na volta do trabalho, em uma chuvosa sexta-feira à noite, tentei entender o que acontecia. Foi quando desenvolvi a teoria da gelatina gigante. Segundo ela, em um dia aparentemente normal, o conjunto chuva, forte calor após tempestade e um caminhão tombado da Otker formaram um imenso bloco de gelatina incolor.

Loucura de bêbado? Não (olha a Lei Seca!). A teoria é bem plausível. Quando o carro entra na gelatina, a visão do motorista fica turva e ele começa a cortar os outros carros, dá seta e não sai do lugar e pisa no freio sem nenhum motivo aparente. Por causa da resistência gerada pela viscosidade da gelatina gigante, os carros ficam mais lentos e o trânsito trava.

Para enfrentar o mal que todos estão fadados, somente muita paciência e “Bob Marley” no som do carro. Uma dica: não tente comer a gelatina... O chão é sujo e São Paulo tem muita poluição.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Olho seca-pimenteira

Dia desses uma amiga me ligou a gargalhadas:

- Você não sabe o que eu vi hoje! Um cara no carro ao lado do meu estava usando um ramo enorme de arruda na orelha.

Vi graça no comentário dela. Como não é todo dia que a gente se depara com pessoas tão supersticiosas, resolvi caçar mandingueiros e talismãs no trânsito. E não é que me surpreendi com a quantidade de objetos pendurados nos carros.

O mais tradicional é a fitinha vermelha no retrovisor. Dizem os sabidos que é para tirar mau-olhado. É o mesmo efeito protetor do chaveiro de pé de coelho, porém menos raro. Toda vez que largo a Kombi no estacionamento, olho para o quadro de chaves dos manobristas para ver se encontro um. É muito difícil dar tanta “sorte”, mas para os perseverantes vira um passa-tempo tosco.

Outra simpatia básica é a fitinha do Nosso Senhor do Bonfim. Olha, deve ter até chinês fabricando isso, porque o que vende... E a maioria das pessoas não se contenta com uma só. Vai lá e amarra umas 20 no retrovisor do carro. Na minha época, era para usar uma, no pulso, com três nós, que representavam três desejos. Novos tempos.

Há quem cola ou pendura bruxas para tudo quanto é lado – isso quem faz é mulher. A mensagem subliminar da proprietária do veículo é a seguinte: “nem vem com olho gordo, porque eu sou bruxa e você é que vai se ferrar.”

Sem dúvida, uma fezinha é irresistível. Uma vez comprei um monte de pimentinhas de vidro e fiz um chaveiro. No primeiro mês, meu irmão pegou meu carro emprestado e achou aquilo uma verdadeira “brasileirice”. Tirou o meu precioso chaveiro e encostou em algum lugar da casa. Eu acabei esquecendo da existência do amuleto, mas meu carro não! Já foi ralado umas vinte vezes na coluna da garagem.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Passos de quem passa

Traçar o mesmo roteiro para chegar ao trabalho faz criarmos amigos desconhecido. Isso mesmo, amigos desconhecidos. É assim como eu classifico as pessoas que vejo todos os dias – e no mesmo horário - transitando ou trabalhando pela calçada. Nunca parei o carro e me fingi de pedestre para conversar com eles, mas já lhes dei nomes. Afinal, tornamo-nos colegas de rotina e de cidade. Testemunhas ocultas de coisas importantes, como uma batida policial, um semáforo quebrado ou o tombo de alguém distraído.

Na região da Paulista existem alguns personagens que merecem minha atenção. Uma delas é a uma senhora japonesa, bem pequenininha e gordinha, com lenço amarrado na cabeça, que passa suas primeiras horas da manhã passeando com seu poodle. Eles batem altos papos. Uma amizade muito bonita. Batizei-a de dona "Olga". Ela tem cara de Olga. Já o poodle se chama “Minuinho”, porque ele tem cara de qualquer coisa no diminutivo.

Outra figura carimbada do Cerqueira César é o vendedor de flores da Alameda Santos. É o seu "José". Ele vende rosas amarelas, vermelhas, cor-de-rosa e brancas. Ele acomoda suas flores sobre uma caixa de madeira (ou algo parecido) e as arruma em montes, cada cor tem o seu. Elas estão sempre bonitas e borrifadas com água. Não tem nada mais charmoso do que comprar flores na banca improvisada do seu José. Vida difícil, mas o sorriso sempre no rosto.

O seu José é vizinho de banca do seu "João", que vende frutas. Toda manhã tem abacaxi cortado, para os clientes que querem comer os nacos na hora. Aquele cheiro de fruta fresca, que passa pela fresta da janela do carro é uma tentação. O seu João foi pioneiro no comércio do quarteirão. Já conhece todo mundo, adora uma prosa e sempre acena para os transeuntes apressados.

Ah, e não posso me esquecer da "Valdete". A Valdete é uma mulher alta, de cabelos longos e tingidos de loiro, unhas pintadas de vermelho e plataforma no pé. A Valdete tem a pele bem judiada pelo sol - deve ter uns 50 anos –, mesmo assim, faz pose de quem para o trânsito. Apesar de perua, Valdete tem a sua verdade e, com ela, conquista os olhares de quem passa…