terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O mistério do 147

Normalmente, quem ouve nossas conversas são os taxistas. Sempre quando percebo que um está de orelha no que estou falando, penso com os meus botões que talvez seja aquela risada bem dada por dentro o que os motivem a enfrentar, todos os dias, o trânsito paulistano e acreditar que “dar carona” é um bom meio de ganhar dinheiro.

Pela primeira vez em todos estes anos de trânsito, tive a rara oportunidade de ouvir a conversa entre dois taxistas. E como eu ri.

Tudo aconteceu em frente ao Parque do Ibirapuera, hora de pico. Tempo abafado, cansaço do trabalho e tudo parado. Como o ócio estimula a nossa criatividade para evitar uma internação psiquiátrica, comecei a prestar atenção no mundo que rodeava a Kombi. Foi quando o trânsito andou um pouquinho e dois táxis da mesma cooperativa ficaram emparelhados:

— Fala, 25! Beleza?

— Beleza, 36.

— E aí, o que achou da festa ontem? [pelo que eu pude entender, festa de fim de ano da “firma”]

Trânsito anda, suspense. Eles param lado a lado novamente:

— Ahhh foi bem legal, eu curti. E você?

— Eu também, 25. Foi muito legal. Pena que aconteceu aquilo com o 147.

A fila do 25 sai na frente. O suspense aumenta. O trânsito anda mais um pouco e o 36 alcança o carro do 25:

— Ahh, cara. Eu não julgo não. Pra mim é tudo irmão.

Mais uma vez, um carro passa o outro e minha curiosidade é aguçada cada vez mais.

— Pra mim também, pra mim também... Mas é uma pena, né?

O 36 tentou, mas não conseguiu se esquivar da fama de fofoqueiro. Com cara de tonto, ele olhou para frente e encarou o parque. Quando virou, o 25 fez um sinal de confirmação com a cabeça.

Quando o 36 ia abrir a boca para mais uma frase inconveniente, o fluxo, milagrosamente, fluiu. E eu fiquei sem saber QUE RAIOS ACONTECEU COM O 147.

Um comentário:

bueno disse...

Hahahahahah.

Como eu venho prevendo há alguns anos: "é tudo irmão".

Sensacional.