quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Apagão

Apagou tudo. Eu, pra variar, estava no trânsito. Às 22h13 a iluminada Avenida Paulista era clareada apenas pelos faróis dos carros e pelos geradores de energia dos hospitais da região. Automaticamente, os carros passaram a fazer comboio para atravessar cruzamentos e o desespero de chegar logo ao lar, doce lar tomou conta de todos.

Alguns motoristas tentavam ser solidários, outros nem um pouco. Para facilitar a vida de quem dirigia no momento, uma leve garoa começou a cair – daquelas que só servem para sujar o para-brisa. Tentei ligar o rádio para saber o que acontecia, mas só um chiado alimentava o auto-falante.

Na falta de qualquer tipo de informação, observei a beleza da cidade no caos escuro. Sim, a cidade sempre terá um lado bonito a se observar. E o escuro traz um silêncio diferente. Embora os carros façam muito barulho – especialmente as buzinas — por trás da euforia era possível ouvir o silêncio da noite. No apagão, não há milhões de televisões ligadas ao mesmo tempo, lâmpadas, computadores, geladeiras ou qualquer outro aparelho que se ligue na tomada.

Aos poucos, luzes de lanterna começaram a fazer um balé pelas janelas, ao som de vozes preocupadas e passos acelerados. A mãe saiu de casa com a criança no colo e ligou para o celular do pai na calçada. Os adolescentes que acabaram de sair da escola se divertiam com a liberdade de uma noite sem luz.

Após meia hora sem luz, a cidade se transformou. Os lugares que você conhecia como a palma da mão tornaram-se desconhecidos. O lado mais escuro de São Paulo se aproximou das luzes dos carros, como mariposas em volta de lampião.

É nessa hora que você começa a sentir medo de uma figura parada ao lado de um poste: o malandro. No meio da confusão, acredito que poucos viram um homem parado com a mão no bolso, na posição de quem atravessaria a rua, mas que apenas observa cada carro que passa.

O malandro não tem hora pra voltar pra casa, não se preocupa com a família, muito menos com a sua. Ele fica ali, à espreita. Espera o melhor momento para abordar um motorista distraído. Porém, desta vez, não foram levados carteira, bolsa e nem celular... O que o malandro roubou foi o encanto do apagão pela cidade.