quarta-feira, 27 de maio de 2009

Justiceiros no trânsito

De sacola enorme no ombro, a mulher no auge de seus 50 anos para seu carro na frente de uma casa assistencial. Ato nobre, que deve encher o peito da cidadã. O único problema é que o seu ato de solidariedade foi estragado por um pequeno equívoco. Ela parou o carro no meio de uma larga via com grandes placas de “proibido estacionar”. Obviamente, ela ligou o pisca - alerta. Mas não foi o suficiente para evitar um estrago no trânsito e ser xingada por todos os carros que passavam.

O fato não espanta ninguém, afinal, as pessoas adoram alternar comportamentos exemplares com falhas que podem acabar com qualquer ato de cidadania. Exemplo claro disso foi o cara que gritou para a mulher tirar o carro do meio da rua. Na esquina seguinte, lá estava ele atirando uma bituca de cigarro pela janela.

A jovem do carro ao lado não deixou barato. Fez cara de nojo do sujeito, deixou uma velhinha atravessar a rua e continuou a conversar no celular. A moça quase bate no carro da frente, que freou no sinal vermelho. Um colega ‘kombista’ viu a cena de longe e, na primeira oportunidade, fechou a menina. Naquele sentido do “quem sabe assim ela desliga isso e dirige direito”.

Justiceiros de trânsito, cidadãos engajados. Eles têm muito que aprender com a dona Terezinha. Ela tem uns 70 anos e ainda dirige - muito bem, inclusive. A dona Terezinha não xinga ninguém no trânsito, só buzina em casos de extrema necessidade e, todo dia, acena para o porteiro do estacionamento que fica ao lado do hospital onde trabalha, como voluntária.

Quando chega em casa, estaciona o carro sem queimar a faixa e deixa a chave no pára-brisa, caso o vizinho do outro apartamento precise manobrar o automóvel para conseguir sair. No seu lar, dona Terezinha prepara quitutes para seus netos pegarem no dia seguinte, arruma a cozinha e separa o lixo para coleta seletiva. Toda noite, ela apaga a luz na hora do telejornal. Uma manifestação silenciosa a favor da economia de energia.

Dona Terezinha não é criação publicitária para promover uma empresa sustentável não. Dona Terezinha existe. Só não repararam nela porque, quando passava pela mulher que estacionou em local proibido, não buzinou.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Poesias da cidade

Chega de estresse no caótico trânsito paulistano. A moda agora é ficar ‘zen’. Para isso, decidi encontrar locais que possam transmitir paz, mesmo para quem está preso nos aquários ambulantes, chamados de carros. Parque do Ibirapuera e Trianon, Museu do Ipiranga e Avenida Europa já estão ‘manjados’, o desafio é achar lugares diferentes.

O meu local preferido é a Casa das Rosas, na Avenida Paulista. Seu jardim de rosas (meio óbvio) vai até a Alameda Santos. Então, dos dois lados podem ser um ambiente de paz – se bem que a vista da Paulista é a melhor, dá para ver tudo. Esse lugar é um daqueles que reúne casais apaixonados, que caminham em lentos passos de mãos dadas, é onde o transeunte pode fazer uma parada de descanso e o cachorrinho abandonado encontra uma sombra.

Outro ponto de São Paulo interessante é a Banca Marshmallow, na Praça Irmão Leão Antonio (Vila Mariana). A banca não tem nada demais, vende revistais e jornais como outra qualquer, mas que nome é esse? Brilhante ideia. Toda vez que leio o letreiro da banca vem em mente coisas doces e uma enorme vontade de comer marshmallow com sorvete. Imperdível.

Agora, ao prêmio arte urbana. A prefeitura apagou a primeira versão, mas a segunda ficou melhor ainda: nada como admirar o grafite da dupla de artistas “osgemeos” (os irmãos Otavio e Gustavo Pandolfo) no acesso da Avenida 23 de Maio ao Elevado Costa e Silva (Minhocão). Cada dia, uma forma diferente de interpretar o detalhado painel de cores vivas. A obra ilumina o cinza da cidade.

Na mesma via de acesso, mas pela saída para a Rua da Consolação, há um dos ângulos mais bonitos da cidade. Neste caso, a categoria é fotografia. No exato ponto de saída do túnel para a via é possível observar a congruência das ruas, ornadas pelos antigos prédios do centro de São Paulo. O charme é reforçado pelos antigos postes de luz. Ao final da tarde, quando os raios do Sol batem de lado e passam entre as árvores, a cena se torna inesquecível.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Radares não rendem bônus

A reação do cérebro humano na presença de radares e lombadas eletrônicas rende um compêndio de psiquiatria. Tudo bem que muitos deles ficam escondidos para o primeiro que passar correndo pagar a multa, mas isso não significa que se o limite é 60 km/h e o carro está a 70 km/h, você tenha a necessidade de socar o pé no freio e chegar a 30 km/h.

O fato é que a maioria das pessoas faz isso, ainda mais quando se trata das lombadas eletrônicas (que mostram a velocidade). Aqui fica um alerta: você não ganhará desconto no IPVA, nem um bônus de bom cidadão e, muito menos, moedinhas de ouro de duendes que possam se esconder atrás dos postes.

Já aqueles que pensam em uma “margem de segurança” para não receber uma multa injusta e ter o trabalho de recorrer depois, também não precisam passar dos 70 km/h para os 30 km/h, basta ficar com velocidade em 55km/h. Está ótimo, tem a sua margem e não atrapalha a fluidez do trânsito.

Outro lado do ser humano a ser estudado é o prazer de ver os outros levarem multa. É só disparar aquele flash que o povo aponta:

- Tomou uma ‘fleshada’ playboy!

Mais interessantes só mesmo os que brincam com o velocímetro da lombada. No começo das instalações desses aparelhos em São Paulo, um conhecido meu não tinha a menor ideia de que aquilo rendia multas. Como no caminho para sua casa havia uma descida, ele pisava fundo no acelerador. Toda vez tentava superar a marca do dia anterior. Até que as multas chegaram e o “Fittipaldi” precisou vender o carro para pagar o prejuízo. Agora, ele se rendeu ao primeiro grupo e tenta manter a marca mais baixa.