quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dia Pessoal sem Kombi

Cinco minutos de minha vida foram gastos hoje, o Dia Mundial sem Carro, com a reflexão de tirar ou não a Kombi da garagem. Diante de um transporte público pouco favorável à causa - metrô não chega perto da minha casa e o ônibus passa na hora que ele bem entende -, a preguiça tomou conta da minha alma.

No cálculo são 20 minutos de caminhada até o trem e mais 30 minutos para pegar o metrô. Desse ponto, mais 15 minutos até sair da estação e outros cinco de caminhada para chegar ao trabalho. Para a segunda alternativa, o ônibus, são prováveis 30 minutos de aguardo para o beleza chegar e mais uma hora de escalas até o destino final.

Meu pulso já girava a chave na ignição, quando comecei a pensar nas alminhas que deixaria de mandar para o céu com um ato tão hostil contra a natureza. Maldita hora que inventei de assistir aos filmes sobre Chico Xavier. Tudo bem que se no céu só tiver gente com sorriso tonto no rosto conversando em tom profético (como ilustra o longa-metragem Nosso Lar), prefiro ficar por aqui mesmo.  Mas mais um carma?

Definitivamente, não. Soltei a mão da chave, que caiu perto do pedal do acelerador. Ao abaixar para pega-la, meus sapatinhos Passione imploravam para ficar. E com razão. Para quem tem o hábito de andar de carro, é uma tortura pensar em caminhar por longas distâncias. Não posso ser hipócrita e afirmar que é o máximo saltitar pelas ruas (as calçadas da cidade são péssimas) e ficar parada em frente a um toco fincado no chão por tempo indeterminado.
         
Lembrei-me, então, da boa e velha magrela. Desisti um segundo depois pelas seguintes indagações: onde arrumaria a bicicleta, já que não tenho uma? Como chegaria ao trabalho sem derreter? Ninguém se mantém “boneca” depois de pedalar quase uma hora por altos e baixos de uma cidade como São Paulo. Como não seria atropelada por motoqueiros e carros (a maioria não está nem aí para a data especial)? E, por fim, onde eu guardaria a bicicleta? Ah, muita chatice, cansei.

Já estava com a chave na ignição, novamente, quando o meio-ambiente foi salvo por um caminhão de som. Os políticos se esqueceram do Dia Mundial sem Carro e continuaram com a corda toda nos comícios. Quer saber, não me juntarei a eles! A Kombi ficou na garagem.

Então, vamos lá, 20 minutos de caminhada, 30 minutos de trem, baldeação, 15 minutos de metrô e mais cinco minutos de caminhada.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

São Paulo e cerveja

Cerveja funciona assim: você bebe e, repentinamente, sua bexiga começa a gritar. Não há aviso prévio, do tipo, “gata, está ficando cheia, trate de achar um toalete agora.” Com tal fato em mente, imagine o seguinte cenário - sábado à noite, bar e a motorista da vez ao volante. Acrescente agora no contexto, a Kombi. Já sentou nos bancos traseiros de uma? Liquidificador é pouco para descrever. Somam-se a tudo isso as “belas” ruas de São Paulo.

Pois é. Somente quando a sua bexiga está cheia é que você realmente percebe quantos buracos têm pelo caminho. Infelizmente, quem chegou a essa conclusão fui eu. A cerveja começou a falar de uma hora para outra. Em poucos segundos, ela tagarelava. Minhas mãos começaram a suar e as pernas não tinham como se entrelaçarem mais – e olha que pratico yoga.

Segundos pareciam minutos e minutos, horas. Tudo estaria sob controle, se não fossem aqueles trancos. E tinha para todos os gostos. Valetas, tampas de bueiros, ondulações, crateras, ranhuras para recapeamento... A cada chacoalhada, mais eu segurava e mais apertada eu ficava.

Até que, definitivamente, não deu, e um berro cortou o silêncio da noite:

- POOOOOOOOSTO!

Como uma brava guerreira, resisti à manobra brusca para entrar no local. Superei qualquer regra social que diz “mocinhas não usam banheiros de postos” e entrei no toalete.

Mas a história não acabou por aí. Sabe aqueles pesadelos que você tenta desesperadamente chegar a um banheiro e nunca acha? Então, igual. Quando dei de cara com o vaso sanitário, reparo que um item importantíssimo se ausentou. Sem papel higiênico, n-ã-o r-o-l-a!

Corri até a Kombi. Onde tem bolsa de mulher, sempre há lencinhos ou similares. Volto ao banheiro em disparada. Sem o problema do papel, detalhes como os azulejos emporcalhados, o chão molhado e o xixi espalhado por tudo quanto é canto começam a ganhar proporções gigantescas.

O que era para ser um alívio virou um tratado filosófico. Entre conselhos da mãe na infância, cenas do Dr.Bactéria no Fantástico, tudo que aprendi nos livros de biologia do colégio e a técnica de uma amiga de acender luzes em lugares suspeitos com o pé, optei por recorrer às aulas da academia. Afinal, a máxima de que banheiros públicos tonificam as pernas é verdadeira.

Como concentração é meu forte – só passei no teste psicotécnico para tirar a CNH por causa dela -, respirei fundo e me mantive por exatos dois minutos no lento processo de esvaziamento. Posso dizer que renasci.  

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ela voltou

Fui acordada hoje por um som conhecido, mas que não ouvia há meses. Ainda sonolenta, levantei, tropecei na cadeira ao lado da cama e caminhei em direção ao barulho. Quando abri a porta, a luz da manhã impedia que eu conseguisse enxergar quem me aguardava. Até que, aos poucos, meus olhos começaram a se acostumar com a claridade e eu pude definir os velhos traços da minha querida Kombi.

Ela voltou! Não podia conter a minha felicidade. Eu sabia que ela retornaria. O dia quando entrei na garagem e, no lugar dela, só havia marcas de pneus parece algo remoto em minha vida. Para que pensar nisso agora, se ela está aqui?

De pijama mesmo fui dar uma voltinha e matar a saudade. Com ela, tudo é diferente: a ladeira da minha rua fica mais íngreme, a bicicleta que passa ao lado fica mais rápida –bem mais rápida -, os carros da frente ficam mais perto e o meu braço, mais forte. Nada como ter a Kombi de volta.

Quando chego a minha casa é que me passa pela cabeça a curiosidade sobre o que aconteceu com ela. Por que desapareceu? A resposta estava no porta-luvas, recheado de fotografias [veja algumas abaixo]. Ela queria conhecer o mundo. Nada mais justo para quem tem rodas.

Da aventura, sobraram as histórias, as lembranças e UM BELO RISCO NA PORTA, QUE EU NÃO VOU ARRUMAR TÃO CEDO!  Entendeu, dona Kombi?