quinta-feira, 9 de abril de 2009

Bala e prosa

- Passa o celular se não vou te encher de bala!

E lá se foi mais um aparelho embora. São Paulo e sexta-feira às 18h são duas coisas que não combinam. O trânsito fica insuportável, todos querem chegar em casa o quanto antes e até os pedestres ficam meio atordoados. Resumindo, a cidade trava. E quando isso acontece, as pessoas que passaram a semana inteira na labuta viram verdadeiros idiotas. Idiotas mesmo, é essa a sensação que fica quando se é assaltado no meio de um trânsito infernal, por um moleque que deveria ter, no máximo, 13 anos.

Os carros em volta assistem à cena, mas ninguém faz nada. A impunidade na cidade é tão grande, que já começou a fazer parte da paisagem, ninguém mais fica chocado. Só a vítima.

Armado? Provavelmente, não. E quem vai arriscar? Entrego o celular, mas com a vontade de ter dado na mão do moleque uma granada:

- Olha moço, para fazer ligações ou atender é só puxar a argola, tá? - falaria com gentileza.

Ah, mas se ele explodisse na frente dos carros, todos ficariam chocados, em um segundo um advogado apareceria com a família em peso e eu seria apedrejada no local.

Passado o devaneio, fruto da mais pura raiva, paro em uma farmácia a procura de um telefone, afinal, bloquear o número o mais rápido possível é de extrema importância: dinheiro, segurança pública e honra estão em jogo. Atenciosa e prestativa, a balconista libera o telefone:

- Pode ligar aqui. Olha, isto acontece praticamente todos os dias. Há mulheres que chegam chorando porque quebraram o vidro do carro e roubaram a bolsa.

O sangue sobe ainda mais. Como assim, acontece quase todo dia? E ninguém faz nada?! É isso mesmo, ninguém faz nada e ninguém fará nada. Quem bobeou fui eu de estar com um palmo do vidro aberto, de ter comprado um celular, de não ter um sapray de pimenta em mãos, de ter pagado os impostos e de ter votado nesses incompetentes que mandam neste país e ainda lucram com a criminalidade.

- Pelo menos, não roubaram a sua bolsa. Imagina, podiam ter atirado em você... – ouço da balconista.

Respiro fundo. Como disse, para fazer ligações ou atender é só puxar a argola.

3 comentários:

jovana chances disse...

uma arma de brinquedo na bolsa. mas daquelas bem reais. juro que ja pensei nisso.

the guilster disse...

Two hours ago I was arguing with four other Brazilians about how "not serious" our country is.

Not only they disagreed with me, but also came up with all the classic examples the typical Brazilian living abroad comes: we have great companies (Vale, Petrobras) and a beautiful country.

Question is: in which way do these make our country serious?

Sorry for your sad episode, Priscila.

Anônimo disse...

São corriqueiros esses fatos, infelizmente. Tão corriqueiros que o movimento da argola tem tempo de passar pela cabeça, como se fosse uma gentileza a um companheiro que esta apenas fazendo o seu trabalho.