terça-feira, 1 de setembro de 2009

Carona

Kombi batida. Tempo perdido e muita paciência para esperar o seguro dos outros funcionar. Enquanto isso, vou de táxi, parafraseando a Angélica. É incrível como taxista tem assunto. Eles vão de religião a fervorosos temas políticos em apenas dois minutos de taxímetro contando. Já ouvi história de chantagem policial, bandido assaltando passageiro em horário de pico, disco voador em Valinhos, da vida de jogadores de futebol e artistas e até de cabeça de motoqueiro quebrando retrovisor de carro em briga, cujo protagonista era o próprio taxista.

De todas as conversas que já ouvi a que mais me chamou a atenção foi a de um ex-sindicalista engajado, que conseguiu proferir meia hora de curso intensivo de como negociar com o patrão e, obviamente, sem deixar de enaltecer o presidente Lula:

- Quando militava no sindicato, tive um curso com o Lula. Como aquele cara é bom. Nossa, que visão tem aquele homem. Olha, naquela época ele já dizia pra gente: “na hora de negociar com o patrão, peça muito mais do que você tem direito, assim, se ele te der metade, já está no lucro”.

Na falta de botões, pensei ironicamente com meus brincos. Nossa, que genial. Em tantos anos da Política, curso de Direito e de jeitinho brasileiro nunca ninguém tinha pensado nessa estratégia antes. Então, ao invés de comentar, deixei três grilos cantarem para quebrar o silêncio ensurdecedor. E o homem continuou:

- Esse cara é um absurdo. Olha o que ele conseguiu. Ele veio do nada e hoje é presidente da República. Lembro dele na época do sindicato, que homem incrível.

Sabe, eu precisava falar:

- Tão incrível... Afinal, o que ele ensinou na sua aula, aperfeiçoou na presidência.

Pelo menos, é o que deve justificar os apartamentos milionários que ele comprou na minha cidade, pensei. Não falei isso porque só a primeira frase já deixou os olhos do cidadão vermelhos. Como era ele quem estava ao volante, optei por chamar novamente os grilos e deixar a ironia de lado.

E ouvi as lições do Lula até chegar ao meu destino. Estava exausta. No dia seguinte, precisei chamar um táxi novamente. Mas, desta vez, nem olhei para frente. Colei a cara na janela e observei, em silêncio, a linda paisagem urbana ao entardecer na Avenida Juscelino Kubitscheck. Finalmente, uma corrida em paz.

4 comentários:

Mauricio Dal disse...

hahahaha!!... e vc teve direito de pagar a metade do que o taxista lhe cobrou seguindo a estrategia financeira do nosso presidente??...

bjos pri!! otimo texto!!

db disse...

sorte que nao tentou levar o assunto para futebol. boas férias.

Unknown disse...

Então quer dizer que não gosta de contadores de história e ex-sindicalistas... hummmm. Engraçado que taxista nunca puxa papo comigo. rsrs Muito bom, "Pri"... Na próxima vez que eu te der uma carona, fico em silêncio... rsrs Beijos

Unknown disse...

Ainda não conhecia seu blog e gostei bastante. Beijos